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Meu processo de criação de conteúdo

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Eu tenho mantido um blog por alguns anos e, desde que, criar conteúdos passou a ser meu ganha pão, eu tenho pensado bastante sobre métodos de escrita.

Assim como programar bem, escrever bem, requer prática e dedicação. Depois de um certo tempo escrevendo, você passa a ter um sistema, uma coleção de passos que você sempre segue e aí você começa a pensar em como otimizar meu trabalho para obter resultados cada vez melhores e entregas de alto nível mais rápidas.

Esse texto é uma reflexão que eu estou fazendo sobre o meu “método de escrita”, que vale salientar é o mesmo método que uso para qualquer conteúdo que eu faço como palestras, vídeos e podcasts. Além disso, eu quero te mostrar de forma prática como você pode passar a escrever.

Por onde eu comecei

Bem, se você me acompanha pode saber que eu não era a melhor aluna de português e redação na escola e eu nunca quis ser escritora, mas o mundo dá voltas e cá estamos. Escrever virou um hábito, depois passou a ser um gosto e hoje, posso dizer, que eu adoro escrever.

Pra mim escrever é como eu organizo as minhas ideias, como eu entendo o mundo e os conceitos que eu estudo, como eu fixo informação. É parte tão integral do meu dia-a-dia de comunicação assíncrona que, se você tirar escrever de mim, eu provavelmente ficarei perdida.

Meu primeiro blog era um site que eu usava como caderno de notas, escolhi um tema e coloquei no ar. Ele era mais pra mim do que pra qualquer outra pessoa e, acima de tudo, o seu objetivo não era ser um blog. Ele era um site onde eu colocava anotações e aprendizados.

Acredito que o foco do meu primeiro site não ser o conteúdo, tirou de mim toda a pressão que vem com “e se as pessoas não lerem o que eu escrevo?” ou “e se as pessoas me julgarem?” ou ainda “e se eu cometer erros?”, me dando tempo e um lugar seguro para praticar a escrita em si.

Como o processo de escrita era relativamente custoso, já que eu tinha que recriar os markdowns que geravam os posts manualmente, e no boom inicial do Medium, eu passei um tempo escrevendo por lá, justamente pela facilidade de escrever em qualquer lugar.

Depois de um tempo o Medium começou a cobrar por leitura e bloquear pessoas com paywall. Foi então que eu decidi sair da plataforma e voltar a manter o conteúdo num lugar livre e que pessoas pudessem acessar sem pagar.

Depois de mais de um ano escrevendo nesse site eu decidi transformá-lo em um blog “content-first”. Um blog de verdade onde o foco era o conteúdo e que fosse melhor para pessoas encontrarem o que elas estavam procurando. A primeira coisa que eu fiz foi trocar de tema e passar usar cards para dar ênfase no conteúdo.

A prática leva a perfeição

Como falei antes, escrever é como programar, você precisa praticar diariamente, estudar, ler o material de outras pessoas para ver como elas enquadram seus assuntos, revisar o que fez e soltar para o mundo. Mas se você estiver começando agora isso pode parecer assustador e, muitas vezes, eu vejo pessoas focando nas coisas erradas.

Eu tenho quatro dicas para te dar, duas delas são “teóricas” e as outras duas são práticas, todas essas são para quem tá começando a querer escrever, ou criar a prática. Coloquei “teóricas” entre aspas, porque elas se referem mais a uma forma de enxergar o hábito da escrita do que uma ação em si.

Dicas teóricas:

  1. Evite a otimização precoce e foque em escrever;
  2. Tenha dois momentos diferentes: um para escrever e outro para editar;

Dicas práticas:

  1. Anote o objetivo do texto antes de começar a escrever o conteúdo;
  2. Depois do objetivo, escreva um esboço em tópicos;

Essas frases resumem bem cada dica, mas vamos passar por cada uma com mais carinho.

Evite a otimização precoce e foque em escrever

Se o seu objetivo é escrever, esse não é o momento de desenvolver o seu próprio blog, às vezes você quer usar o blog como um momento de estudo para aprender como usar um gerador de páginas estáticas novo, ou aquele framework que tá dando o que falar, e eu entendo essa vontade, de verdade, mas se você quer escrever, talvez usar o blog como espaço de aprendizado de uma nova tecnologia não seja uma boa ideia.

Nós, pessoas que desenvolvem, temos o péssimo hábito de querer implementar tudo do nosso jeito, de implementar uma versão melhor, mais completa, mais cheia de fru-fru, e esquecemos de focar no importante: a entrega de valor. Isso vale tanto, para código quanto para escrita de texto e, no caso do conteúdo, a entrega de valor é exatamente essa, o conteúdo.

Por exemplo, eu tenho usado muito o Notion para escrever rascunhos e outros projetos. Já vi outras pessoas também querem usar essa mesma ferramenta por que ela tem uma feature chamada Databases, que permite criar conteúdo de forma interconectada, mas será que você precisa mesmo usar databases agora? Talvez não, principalmente se você quer escrever.

Você pode retrucar falando: “Eu quero usar databases já para evitar retrabalho no futuro”. E aí eu te falo mais: Se você estivesse escrevendo código, que um dia, talvez, precise usar uma base de dados, você iria pensar em escrever a integração com base de dados agora? Gosto de acreditar que não. No máximo você estruturaria seu código para facilitar a refatoração no futuro, não é mesmo? Então, aplique o mesmo pensamento à sua escrita, facilite o seu lado até onde der, mas não se prenda ao que você vai precisar no futuro.

Se prender ao futuro te impede de focar no mais importante de entregar agora: criar a prática de escrever. Você pode escrever até no bloco de notas se você quiser, o importante é focar naquilo que você precisa de verdade.

Escreva em um momento e edite em outro

Para estarmos na mesma página, acho importante definir o que eu encaro como edição. Para mim, editar é ato de remover coisas desnecessárias, ajustar parágrafos e frases para que façam mais sentido e corrigir erros de digitação. Todas as atividades que envolvem melhorar o que já foi escrito. Isso só é possível depois que você tem algo na página.

Eu conheço pessoas que conseguem escrever e já irem editando o texto ao mesmo tempo. Isso não funciona para mim, eu preciso ter dois momentos separados, um para cada parte. Eu gosto de dizer que primeiro eu derrubo tudo que tô pensando na página e depois eu faço isso ficar bonito.

Todas as vezes que eu fiz os dois ao mesmo tempo, eu acabei desistindo de publicar o conteúdo ou até mesmo de terminar o artigo. Além disso, editar em um momento e escrever em outro, me ajuda a melhorar bastante os meus textos e terminar um texto num espaço mais curto de tempo.

Além de reduzir o tempo de criação de um artigo, fazer as coisas separadamente me ajuda também a chegar ao objetivo de todo conteúdo que eu faço: publicá-los para que eles possam ajudar alguém. Afinal, o texto existir apenas no meu computador não serve para nada além de ocupar espaço.

Já que estamos falando de edição, se você chegar na minha casa e eu estiver editando um texto, você vai me encontrar lendo ele em voz alta. Ler em voz alta me força a ler o conteúdo devagar, encontrar falhas nas explicações que pareciam claras no momento da escrita se torna mais fácil, assim como encontrar erros de digitação. Leia os seus textos em voz alta antes de publicá-los, confie em mim.

Comece pelo objetivo e retorne a ele sempre que preciso

Às vezes, eu tenho um problema de foco: de tempos em tempos me ataca uma vontade de querer abordar mais de uma coisa no mesmo texto. Para vencer esse problema de foco eu sempre começo anotando a introdução do texto no formato de um objetivo a ser alcançado:

  1. Aprenda X conceito;
  2. Veja como implementar Y;
  3. Descubra como fazer Z.

Obviamente embalado com mais algumas palavras de contextualização e num formato de call-to-action para atrair a atenção de quem lê. O objetivo serve, ao meu ver, principalmente para duas coisas:

  1. Do lado de quem lê: despertar interesse e dar clareza sobre o que vai ser abordado ou o problema a ser resolvido;
  2. Do lado de quem escreve: guiar a sua escrita e te manter na linha evitando desfocar daquilo que você se propôs a resolver no texto.

Por isso, anotar o objetivo primeiro é de grande valia. Após terminar a escrita do rascunho, o primeiro check que eu faço é conferir se eu resolvi aquilo que eu propus no início do texto. Caso a resposta seja não, ou eu ajusto o texto para atingir o objetivo ou eu guardo a ideia inicial para um novo blog post e reescrevo a introdução para combinar com aquilo que eu realmente entreguei.

Uma revelação que me ocorreu também nesse processo é que os meus melhores artigos tem como objetivo uma pergunta muito clara a ser respondida. É uma verdade que, se você não puder pagar ferramentas ou fazer pesquisas para otimizar o seu texto, a melhor otimização que você pode fazer é responder apenas uma pergunta por artigo. Ao fazer isso, tanto quem lê quanto o Google, vão entender o que aquele artigo propõe.

Escreva um esboço em tópicos

Depois de escrever o foco do artigo, eu sempre tento organizar as minhas ideias, então eu anoto o que preciso escrever sem falta no formato de tópicos. Digamos que esses tópicos são a receita mínima, mas sem detalhes, que garante que eu respondi a pergunta inicial.

Geralmente, esses tópicos definem as seções do texto e muitas vezes eles viram os títulos e subtítulos de determinadas seções. Por exemplo, eu estou trabalhando em um material que fala sobre o uso de um CDN no GitFichas.

Eu escrevi os tópicos no formato das perguntas que eu faria para entender a justificativa de usar uma nova ferramenta num projeto. Comecei com o motivo de usar um CDN, passando pelo o que é e a sua relação com a velocidade de carregamento de uma página. Em seguida, eu pensei em falar sobre qual serviço eu escolhi como CDN. Depois conto como eu subi e organizei as imagens no CDN e finalizei com a parte de atualização de posts para usar as imagens de lá.

índice contendo os títulos das seções do artigo sobre CDN

Se esse blog post do CDN fosse em um formato de tutorial (que ele não é hoje) ele provavelmente ainda teria uma seção de fechamento para rever os conceitos aprendidos ou para ressaltar pontos principais.

Escrever esses tópicos me ajuda a definir a estrutura inicial do texto e também a quebrar a tarefa que escrever um artigo, ao invés de pensar em escrever um artigo por completo, você pode começar com apenas uma seção, fazer uma pausa, ir para outra e assim sucessivamente.

Depois de escrever os tópicos das seções mais importantes, eu listo também em formato de tópicos, os assuntos que vou abordar em cada seção. Pensar em tópicos antes de escrever o texto por completo pode ajudar também a encontrar falhas de estruturação e facilitar a adaptação antes de ter retrabalho para reescrever seções por completo, assim eu facilito a minha vida caso precise fazer alguma alteração maior logo de cara.

Conclusão

É importante lembrar que esse é o meu processo e ele funciona muito bem para mim embora tenha levado uns três anos pra eu ficar realmente feliz com ele.

Eu estou te contando que isso demorou uns três anos, não para te desestimular, mas para te garantir que, se encontrar esse método estiver demorando para você, tudo bem.

O mais importante é você encontrar o que funciona para você, o seu processo, no seu ritmo.

Recapitulando

Pra finalizar, eu aposto que você quer um resumo de tudo que você acabou de ler, não é mesmo? Aqui estão os pontos principais:

  1. Evite a otimização precoce e foque em escrever;
  2. Tenha dois momentos diferentes: um para escrever e outro para editar;
  3. Anote o objetivo do texto antes de começar a escrever o conteúdo;
  4. Escreva um esboço em tópicos.

Para finalizar, tente colocar em prática, pelo menos, uma das coisas que você aprendeu com esse texto o quanto antes, enquanto a memória está recente, assim a probabilidade de você fixar esse novo jeito de pensar é maior.